sábado, 20 de junho de 2009

Hats are HOT!!

Olha só...

Um ano, ano e meio atrás, passando em frente a uma lojinha no centro de Sampa, tive o impulso de entrar pra ver chapéus. Eu tinha acabado de assistir pela centésima vez Os Irmãos Cara de Pau, e pensava em quanto custaria um visual como o dos caras.

Um vendedor muito solícito se aproximou, meio desconfiado, acho, talvez se indagando se eu estava na loja certa, ou se queria usar o banheiro... (explico: eu tinha acabado de sair da Galeria do Rock, trajando todo pimpão meu coturno e meu jaco de couro surrado. Não devia estar muito combinando com loja de chapéu centenária do largo do Payssandu...). O senhor que me atendia, esse sim, parecia ter nascido junto com a loja, provavelmente no século passado, não, retrasado, que a loja, de acordo com o vendedor, era de antes da virada do século XX! Não sabia se acreditava, mas, enfim, deixa o vôzinho contente, né?

Ok. Depois de uma breve conversa sobre a história da loja, dos chapéus, do filho do véinho, passamos para o que interessava, experimentar os chapéus.
Engraçado.
Eu lembro a primeira vez que tomei vinho. Achei ruim pra cacete. Devia ter menos de 20, e a Breja era "A" minha bebida, assim como da cambada que andava comigo.
Claro que, voltando ainda mais no tempo, a primeira vez que tomei uma cerva achei uma merda! Como alguém podia trocar refri por um troço amargo daqueles?
Foi o que pensei quando coloquei o primeiro chapéu que o vendedor me passou. Achei esquisito, grande, parecia que a minha cabeça, que já não é pequena, estava com um cocuruto... não gostei...
O senhorzinho riu (lembrei do meu avô rindo, eu adolescente, ao me apresentar a loura gelada da Antártica. Essa lembrança, como se verá, foi muito importante...), e falou que tinha que se acostumar... e que não é qualquer chapéu que agente coloca e sai andando, cada um tem seu estilo, tem que descobrir o chapéu. Quase uma arte...
Não podia estar mais certo. Tanto que, quando coloquei o quarto ou quinto chapéu que ele me mostrou, pareceu encaixar perfeitamente, coisa mágica, o espelho mostrava exatamente como eu me sentia quando ouvia um Blues, um Rock clássico, quando sentava naquele boteco legal com os amigos e sentia que a vida era cool!



Coincidência das coincidências, o vendedor me informou que aquele chapéu era fabricado há quase cem anos em uma fábrica de Campinas... quase caio pra trás! Um dos anarquistas mais legais que eu conheci, senão o único, usava no início do século o mesmo chapéu, digo, da mesma marca! Adivinha quem?
Bem que eu achei que reconhecia a assinatura do ladinho da fita. O faceiro jovem Murilo Dias, vulgo "meu Vô", provavelmente deu em cima da melindrosa Maria das Dores, codinome "minha Vó", com um Cury na cabeça. E passou a vida fiel à marca campineira. Nem pensei duas vezes. Comprei o dito cujo! Quem não compraria?

Na mesma noite, coloquei o chapéu e fui pro boteco, festinha de boas vindas pra Deise, minha melhor amiga, que voltava da Europa. Teste de fogo! Que minha anta-amiga, se não gosta, fala na cara. O que é muito bom. Não a torna a pessoa mais popular do mundo, mas foda-se. "Nóis gostcha!". Ela olhou, olhou, e lógico, amiga minha, tinha que me escrotizar antes de elogiar. "Você roubou do seu avô?" "Roubei (he he he). Gostou?" "É, fica bom..."
Isso, em Deisês contemporâneo, significa "Sim, ficou legal, show, etc, etc..."



Já Leandro, lóóóógico, chegou chegando e lascou: "Quem te falou que chapéu tá na moda? Equivocaaaado..."
Eu, polidamente, entre fingir que não tinha ouvido e mandar o Lê à merda, optei pela segunda, e caímos todos nas brejas, que já tava esquentando... matamos a Deise, não, a saudade da Deise, colocamos a conversa em dia, e meu chapéu se integrou à imagem do Homem do Saco definitivamente...

Atualmente, não consigo pensar em dar minhas voltas pelos botecos sem um dos meus chapéus, que já somam sete, de cores e modelos diferentes. Minha gata me presenteou com uns, amigos com outros, e a coleção cresce. E, mesmo sabendo ser impossível, imagino que a qualquer hora, num barzinho boêmio desses, vou cruzar com o Seu Murilo, de chapéu, e dar aquele aceno simpático chamando pra mesa, pra ouvir os casos da vida anárquica e longa do meu querido avô... ele vai elogiar meu gosto, passar uma cantada na minha mina, só pra não perder o costume, e vamos rir quando, na hora de sair, a gente pegar os chapéus trocados...

Saudade, vô.

Pro senhor, eu sempre tiro o chapéu!

5 comentários:

Marcela Prado disse...

pena que chapeu virou uma coisa justin timberlake.

tem um documentario chamado o chapeu do meu avô. ja viu? caso nao, procure.

Homem do Saco disse...

Tô indo agora pro youtube procurar!
Valeu!

Boca de Porco disse...

Cê tem que escolher um chapéu, c/ dois furos, aí sim vai ficar legal !!! hahahahahahahah

Homem do Saco disse...

Ou dá pra aproveitar a galhada e pendurar a coleção de chapéus! hauhauhuahuha

deisoca disse...

Hahaha! Deisês contemporâneo!hahaha
Ei! Seu retardado! Acho q o seu tempo psicológico é diferente do meu....aquele "estou te ligando agora" ainda não aconteceu. FDP!