sábado, 27 de novembro de 2010

João Cabral de Melo Neto

Perdão.
Faz uma cara que não escrevo.
Tive uns tempos turbulentos. Coisa de fim de ciclo, dizem os místicos (na verdade, quem diz são dois amigos que tenho e que se fazem passar por tarólogos, ou astrólogos, não sei bem).
O fato é que não encontrava a menor inspiração pra escrever, uma linha que fosse!
Mas já dizia a minha avó: não há bem que sempre dure ou mal que nunca se acabe. Ou o contrário.

Neste exato momento, são sete e meia da noite, e eu acabo de ter/ver um belo nascer do sol!

Semana que vem, prometo: volto à produção! E acelerada!

Hoje, João Cabral de Melo Neto, pra guardar esse nascer do sol tão gostoso desse comecinho de noite!


Tecendo a Manhã
1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.