terça-feira, 23 de setembro de 2008

Nelson Rodrigues 2008

Cheguei pro meu irmão:
- Empresta aí o cartão que vou levar o Júnior num puteiro. Dos bons. Dá a senha.

Meu caríssimo brother fez uma cara que eu não via desde que avisei meu pai que queria fazer teatro. Acho que essa cara é genética. Um misto de supresa com reprovação e desconfiança. Algo como "queporraéessaquevocêtáfalandoqueeunãoacreditoquetôouvindo" resumido em um torcer de sombrancelhas.
- Como é que é?
- O Júnior. Tô levando, não tô pedindo. Igual Tio César fez com a gente. Pra aprender do jeito certo, com puta, caralho. Vai, o cartão! O filho é teu, eu que tô fazendo favor...
- O Tio nunca me levou num puteiro!
- Azar o teu, que EU ele levou. Vai ver por isso que eu sempre me dei melhor com as minas! Anda! Mete a mão no bolso uma vez na vida...

Acho que foi o susto. Ou as brejas que a gente tinha tomado. Em condições normais, nunca que meu mano ia deixar. Mas deixou. E ainda bancou!

Apresento Júnior. Meu sobrinhão. Recém chegado na maioridade. Tímido feito uma virgem medieval, mas com um fogo de sátiro! Espinha é mato. Só na punheta. Deseperado! Sem o menor jeito com o sexo oposto. Mas cheio de boa vontade.

Levei o garoto em um puteiro que já tinha ouvido falar. Não ia levar em lugar chulé, né? Visitei o site, chequei os preços, o ambiente. Sangue do meu sangue, queria uma estréia com classe. Mas nada muito "chique", que a tradição pede uma certa sacanagem, certo "ar malandro"...

Umas brejas, e nada dele se animar... cacete... puxei uma putinha gatinha de lado e pedi pra chegar junto do rapaz. Dei as instruções: "ensina tudo direitinho, barba, cabelo e bigode. Serviço completo!"

E a menina fez direitinho. Chamou o Jr pra jogar um bilhar e descontrair, deu aquela namoradinha de puteiro, pegou pela mão e levou pro quarto. Passando por mim, aquele sorrisão bobo de "me dei bem" estampado na cara confirmava a felicidade do meninão.

Fui pra mesa de bilhar esperar o garoto. Chamei uma das meninas pra jogar um mata-mata (ganhei no bilhar de uma puta!! ô glória!!), tomei mais uma breja... às garotas que chegavam junto eu explicava que não ia rolar nada comigo, que estava ali levando meu sobrinho... algumas não entendiam direito, outras achavam fofo... e o tempo foi passando...

Deu a hora, volta o menino, agora homem... todo alegrão... pagamos e saímos. Na calçada, Rua Augusta, ouço uma frase com tanto entusiasmo que quase me arranca lágrimas: - Valeu, tio!

Lembro do Tio César, fanfarrão, parceirão do futebol de rua da meninada da Pompéia da minha adolescência. Deve estar olhando lá de cima (ou pra cima, as opniões variam...) cheio de orgulho...

A tradição se preserva.

Penso comigo, valeu, Tio Cézar. Valeu mesmo...