sábado, 4 de julho de 2009

Descola um pé de coelho, véio!

- Tô saindo! Quer alguma coisa da padoca?

Sentado em seu trono particular, Marquinhos nem ouviu a pergunta de seu colega de quarto. Paulo teve que chegar na porta e repetir, com aquela paciência que só os caras de república estudantil carregam:
- Ô, animal, quer parar de bater punheta e se dignar a responder?
Justiça seja feita, Marcos não estava descabelando o palhaço (pelo menos, não NAQUELE momento. O que subtraía sua atenção era o joguinho do celular recém adquirido...).
- Não, véio, quero nada não!
- Ouviu e não respondeu, né, filhadapu... eu devia bater a porta, estafermo! Bom, tô saindo!
- Vai com Deus, viado!
A ameaça de Paulo, para que se entenda, é fundamentada em um princípio básico de república masculina: "a zona é nossa, e nóis gosta"! Explico. O trinco do banheiro dos caras estava quebrado há tempos, uns dois meses, mas ficaram naquele não-fui-eu-não-vou-consertar, um culpando o outro, o tempo foi passando, e se acostumaram a deixar a porta meio encostada, meio aberta. As namoradas reclamavam, os rapazes (moravam em três, o Alexandre ainda não apareceu em nossa história...)prometiam consertar, e ficava o trico quebrado...
E, claro, o trinco estava quebrado do lado de dentro, ou seja, a porta só abria por fora...

Pois assim era, e a vida seguia muito bem, como tem que ser na época da faculdade.

Estava lá, pois, o Marquinhos e seu celular, muito feliz, sentado no trono, depois do seu cocô, entretido com seu joguinho preferido. Uma meia hora depois, já com as pernas dormentes, sentiu a necessidade de sair daquele ambiente um tanto inóspito, e já se preparava para sair, quando - PLOFT - cai o celular novinho dentro da privada, ainda cheia dos restos do almoço do dia anterior! Desespero! O cara nem pensou, se inclinou como o Flash, para resgatar o celular.
Banheiro pequeno, leitores! E mau projetado.
Como se coreografado, temos aqui um balé trágico, em três movimentos, três ações, não simultâneas, mas sincronizadas. E, cada uma, com sua própria onomatopéia: PLOFT, ZÁS, TCHIK!
Vamos dividir a cena para maior compreensão:
PLOFT - lá se vai o celular pra merda!
ZÁS - Marquinhos se inclina pra frente e resgata o aparelho!
TCHIK - a bunda do nosso herói empurra a porta, e esse último som, caríssimos, é a tranquinha travando a maçaneta e prendendo o pobre estudante em seu banheiro de 2m quadrados...

Marcos não se apertou. Claro, estava puto, mais pelo mergulho do celular que pela porta. Afinal, seu amigo logo estaria de volta e lhe tiraria daquela situação... mas o celular era novinho. Que vacilo! Enxugou como pode com uma toalha de banho, mas queria sair logo dali e secar o aparelho com o secador de cabelos. Tomara que o Paulo voltasse logo.

Claro que desgraça pouca é bobagem, e o Paulo, a essa altura, já está sentado na mesa da padoca com outros três amigos, virando breja atrás de breja. Marcos não poderia chamá-lo de traíra, que ele até tentou chamar o amigo quando viu a galera chegando na padoca... mas o celular do Marquinhos só dava caixa postal...

Conforme o tempo foi passando, nosso prisioneiro começou a se preocupar. "Cadê o merda do Paulo, cacete?". Já contava, então, com duas horas de cativeiro. Deduziu que o colega devia ter encontrado alguém, talvez a namorada, e decidira não voltar pra casa. Ou seja, Marcos estava fodido!
Lembrou do Alê, que chegava quase sempre pelas sete do trampo. Beleza! Mais meia hora, só! O que é meia hora, quando já se está dentro do banheiro há três? Claro que, com o cair da tarde, estava começando a esfriar, e ele estava só de cueca. Mas o frio é psicológico, não é mesmo? Pensando assim, conseguiu relaxar um pouco, e se preparou para mais meia hora de espera, um pouco mais calmo.

Talvez, se soubesse que o Alê, por uma ironia do destino, já que sempre ia direto do trampo pra casa, naquele dia resolveu comprar pão e encontrou o Paulinho bebendo, e resolveu se sentar também com o grupo pra tomar umas brejas, se soubesse disso, Marcos não teria relaxado tanto. Mas relaxou, e, como estava muito tenso, foi relaxar na privada e seu corpo desmontar de cansaço. Pegou no sono. Acordou quase oito da noite, tremendo de frio, de cueca e meia. E celular quebrado.
Aí, sim, desesperou! Gritou, chutou, chorou, se descabelou... riu pra caralho da situação, aquele riso nervoso, que a vítima dá quando percebe que o lobisomem tá chegando e acabaram as balas de prata. Fodido! Como estava fodido!
No desespero, reparou a entrada de ventilação do banheiro, um buraquinho retangular, perto do teto. Será que dá? Estreito... foda-se, ia tentar!
Escalou a parede, sempre tremendo de frio, um pé na privada, outro na pia, segura no registro, opa! quase caio... agora força... merda de buraco estreito... mas dá... feito minhoca, mas dá...
E foi se esgueirando, se ralando todo, passando pela parede. Do outro lado, feito mergulhador, aparou a queda na máquina de lavar roupa, e caiu exausto no chão. O peito, por ter se arrastado contra a rugosidade da parede, vermelho, cheio de vergões. Os mamilos, parecia que tinham colocado dois pregadores de roupa, inchados, doloridos. Mas livre!

Mal tombou no assoalho da área de serviço, abrem a porta Paulo e Alexandre. Totalmente embriagados. Sorte que ao sair da padoca, encontraram a filha gostosa da vizinha, que os levara para casa. Bem, sorte de quem?
Alê não se aguentava de rir, apontando para o amigo, seminu, que corria para o quarto: "Olha a bunda do cara! Puta cueca véia! Tá com freada de caminhão! Coisa mais feia!"
Paulo, tão bêbado que estava, nem entendia o que se passava. E a menina... bom, essa nunca mais teve coragem de comprimentar o Marquinhos olhando na cara...

Claro que a história não termina ai. Dia seguinte, Marcos se encontrou à tarde sozinho no apê com sua mina. Conversa vai, conversa vem, não contou o ocorrido na véspera. É preciso resguardar a namorada de certos vexames. Quando estavam no preparatório para o ato libidinoso, vulgo, iam transar, e o jovem tira a roupa, a garota grita de raiva, exigindo saber que merda de arranhões de unha eram aqueles no peito do pobre.
Rindo amarelo, Marquinhos diz que já, já conta tudo, mas precisa tirar uma água do joelho antes, e deixa a garota na sala. Dentro do bannheiro, enquanto se alivia, o pobre escolhe qual a versão menos vexatória dos eventos da tarde anterior, pra manter alguma moral com a garota.

É justamente aí que ela, se aproximando da porta do banheiro, coloca a cabeça pra dentro e começa a gritar (falei que ela é ciumenta pra caraio?) sobre sexo com vadias, traição, e grita que vai embora, que ela não é palhaça, e passar bem, seu filho da puta!

E sai fula da vida!

Batendo a porta...

TCHIK!

2 comentários:

Boca de Porco disse...

Na próxima encarnação vou querer fazer facu no interior, hehehehehe

Homem do Saco disse...

Dois!
São Carlos!
he he he!