
Um vendedor muito solícito se aproximou, meio desconfiado, acho, talvez se indagando se eu estava na loja certa, ou se queria usar o banheiro... (explico: eu tinha acabado de sair da Galeria do Rock, trajando todo pimpão meu coturno e meu jaco de couro surrado. Não devia estar muito combinando com loja de chapéu centenária do largo do Payssandu...). O senhor que me atendia, esse sim, parecia ter nascido junto com a loja, provavelmente no século passado, não, retrasado, que a loja, de acordo com o vendedor, era de antes da virada do século XX! Não sabia se acreditava, mas, enfim, deixa o vôzinho contente, né?
Ok. Depois de uma breve conversa sobre a história da loja, dos chapéus, do filho do véinho, passamos para o que interessava, experimentar os chapéus.
Engraçado.
Eu lembro a primeira vez que tomei vinho. Achei ruim pra cacete. Devia ter menos de 20, e a Breja era "A" minha bebida, assim como da cambada que andava comigo.
Claro que, voltando ainda mais no tempo, a primeira vez que tomei uma cerva achei uma merda! Como alguém podia trocar refri por um troço amargo daqueles?
Foi o que pensei quando coloquei o primeiro chapéu que o vendedor me passou. Achei esquisito, grande, parecia que a minha cabeça, que já não é pequena, estava com um cocuruto... não gostei...
O senhorzinho riu (lembrei do meu avô rindo, eu adolescente, ao me apresentar a loura gelada da Antártica. Essa lembrança, como se verá, foi muito importante...), e falou que tinha que se acostumar... e que não é qualquer chapéu que agente coloca e sai andando, cada um tem seu estilo, tem que descobrir o chapéu. Quase uma arte...
Não podia estar mais certo. Tanto que, quando coloquei o quarto ou quinto chapéu que ele me mostrou, pareceu encaixar perfeitamente, coisa mágica, o espelho mostrava exatamente como eu me sentia quando ouvia um Blues, um Rock clássico, quando sentava naquele boteco legal com os amigos e sentia que a vida era cool!

Coincidência das coincidências, o vendedor me informou que aquele chapéu era fabricado há quase cem anos em uma fábrica de Campinas... quase caio pra trás! Um dos anarquistas mais legais que eu conheci, senão o único, usava no início do século o mesmo chapéu, digo, da mesma marca! Adivinha quem?
Bem que eu achei que reconhecia a assinatura do ladinho da fita. O faceiro jovem Murilo Dias, vulgo "meu Vô", provavelmente deu em cima da melindrosa Maria das Dores, codinome "minha Vó", com um Cury na cabeça. E passou a vida fiel à marca campineira. Nem pensei duas vezes. Comprei o dito cujo! Quem não compraria?

Isso, em Deisês contemporâneo, significa "Sim, ficou legal, show, etc, etc..."

Já Leandro, lóóóógico, chegou chegando e lascou: "Quem te falou que chapéu tá na moda? Equivocaaaado..."
Eu, polidamente, entre fingir que não tinha ouvido e mandar o Lê à merda, optei pela segunda, e caímos todos nas brejas, que já tava esquentando... matamos a Deise, não, a saudade da Deise, colocamos a conversa em dia, e meu chapéu se integrou à imagem do Homem do Saco definitivamente...

Saudade, vô.
Pro senhor, eu sempre tiro o chapéu!
5 comentários:
pena que chapeu virou uma coisa justin timberlake.
tem um documentario chamado o chapeu do meu avô. ja viu? caso nao, procure.
Tô indo agora pro youtube procurar!
Valeu!
Cê tem que escolher um chapéu, c/ dois furos, aí sim vai ficar legal !!! hahahahahahahah
Ou dá pra aproveitar a galhada e pendurar a coleção de chapéus! hauhauhuahuha
Hahaha! Deisês contemporâneo!hahaha
Ei! Seu retardado! Acho q o seu tempo psicológico é diferente do meu....aquele "estou te ligando agora" ainda não aconteceu. FDP!
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