A primeira vez que ouvi a música, creio, foi na trilha sonora de Estúpido Cupido, rede globo (ok, sem piadas com a minha pessoa envolvendo Moisés, como estava o tempo no Gólgota ou se eu fui junto com a Coluna Prestes...sim, eu acompanhei Estupido Cupido!):
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Mas que nervoso estou
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Sou neurastênico
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Preciso me tratar, senão,
eu vou prá Jacarepaguá
Faz uma cara! Da novela, nem lembro... mas a musiquinha, essa me persegue.
Quem me conhece nem adivinha, por vezes, como eu tenho ganas de esganar os outros usuários do Metrô, ou o desejo contido, a duras penas, de socar em cheio o nariz do atendenteZINHO de merda da lojinha de Café, McDonalds, Casa do Pão de Queijo, que seja, que coloca na minha frente uma xícara de uma mistura quase branca quando eu pedi um café com leite bem escuro e ainda tem a pachorra de perguntar sorrindo "tá bom assim?"
E a dedada no rabo? Eu juro, um dia vou arrumar confusão, mas meto uma dedada naquele pessoal que fica parado na roleta do ônibus, sendo que tem lugar na frente e o cobrador já pediu umas duas vezes o famoso "passinho pra frente pra fechar a porta, pessoal"!
E, claro, mais da metade com as mochilas nas costas. Parecem Tartarugas Ninjas, aquelas carapaças de nylon cheias sabe-se lá de quê, lindamente ocupando o espaço que você pretendia passar pra chegar à porta, putz, dá licença, vai descer, motorista, já foi. Que merda!
O interessante é que, mesmo que você tente exercer o seu direito de ser misantropo, afinal, favas ao homo sapiens, como pedia Fernando Pessoa, deixem-me ir sozinho ao diabo, mesmo que tente, a humanidade te persegue! Eu amo, creio, umas 15 pessoas. Tolero a companhia de quase uma centena. Sobra muita, muita gente. Gente que faz questão de falar comigo na fila do ponto de ônibus do aeroporto, mesmo eu com livro aberto e Ipod enterrado nas oiças:
- É ess.. o ônib.. ..bica?
Esqueci de mencionar. O Ipod fica constantemente no último volume. Costuma funcionar. É quase um campo de força acústico. Mas a senhorinha na minha frente com cara de interrogação parecia não ter percebido as ondas que emanavam da minha cabeça dizendo "longe.... fique longe..."
Ela até era bonitinha, parecia bem perdida. Lembrava minha mãe.
O que não lhe ajudava em nada. Pelo contrário.
Fiz uma careta de "what a hell?" (uótaréu?) e apontei pro fone.
- É ess.. o ônib.. ..bica?
Ok, você venceu: batata frita. Tirei o fone (um ouvido só, dos dois seria pedir demais):
- Desculpe, não entendi.
- O ônibus, é esse o ônibus pra Cumbica?
Meu primeiro impulso, já que a gente estava em uma fila bem embaixo de uma placa que estava escrita AEROPORTO DE GUARULHOS, foi responder que não, que era fila do açougue. Mas vai saber a reação do resto da fila, se ouve... pensei também em explicar que Cumbica é a base aérea, o aeroporto é Guarulhos, ou melhor ainda, Franco Montoro. Mas achei que um "sim" seria melhor.
- É (melhor ainda que SIM, uma letra só. Economiza!)
- Awn! - provavelmente significando algo como "que bom, obrigado". Mas foi só "awn" e balançou a cabeça. Dei por encerrado. Graças! De volta ao Ipod!
- Ess.. va... ..ir?
Ok. Gusfrabaaa! O Iron Maiden espera.
- Desculpe?
- Esse ônibus já vai sair?
- Às quatro e meia.
- Awnnn!
Pausa. Fiquei olhando, fone de ouvido no ar, no meio do caminho. Aguardando...
-Agora...
- Quatro e vinte. São quatro e vinte. Dez minutos.
- Awnn!
Pausa. Eu sei que vai perguntar mais alguma coisa. Ah, esse suspense. O fone na mão. Meio do caminho. Mudo. Aguardando...
-Daqui até...
-Meia hora. Com trânsito bom. Cinquenta minutos, hoje. Provavelmente.
-Ah...
Pelo menos mudou um pouco o monossílabo...
-Vou viajar de Gol, sabe? Que terminal é?
Nessa eu já tirei o Ipod de vez, e comecei a responder o inquérito sobre o aeroporto, sim, senhora, é fácil, não, não vai se perder, é, as malas tem que carregar, roubam, sim, tem que ficar esperto.
O ônibus começa a embarcar. Andamos até a porta, eu dou um passo liberando caminho pra ela entrar na frente.
-Não, não vou hoje não. Eu viajo amanhã. Só vim perguntar tudo direitinho. Se bem que meu filho disse que vai me levar de carro até lá.
E foi-se embora. Sem nem um "awn" de obrigado.
Mas balançou a cabeça.
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Mas que nervoso estou
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Sou neurastênico
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Preciso me tratar, senão,
eu vou prá Jacarepaguá
Neurastênico
Ronnie Cord
Composição: Betinho / Nazareno de Brito