A maior parte dos meus amigos me fala a sorte que eu tenho de trabalhar com uniforme. Sabe, companhia aérea, coxinha pra caralho?E olha que eu já passei por duas. A velha Varig (que Zeus a tenha!) e a nhãnhãnhã (sem nomes... essa ainda paga as minhas contas.. hehehe), que é norte-americana. É. Do tio (seu tio?) Sam.
No entender dos tais amigos não-uniformizados, minha "farda" salva minhas roupas "civis" do desgaste. Economiza o tempo de escolher o que vestir. É "de gratis!".
Pois eu posso garantir, só quem nunca trabalhou de uniforme pode concordar com essas afirmações. Ou melhor, pode concordar que essas "facilidades" compensam o uso da roupitcha de paiaço todo santo dia (ou dia-santo, porque feriado, meu caro leitor, só conhece quem não trabalha em turnos. Não é o caso deste que vos tecla...).
Uniforme, já no nome, mostra a que veio: pode falar tchau pra sua individualidade. Você agora é uma peça da máquina. Uma engrenagem... tic tac.
Fora os micos que eu já passei ...
No começo, até que o uniforme era legal. A Velha Varig tinha uma beca da hora. Terno marinho, sobretudo fino, sapato cool. Meu amigo, quanta mina eu não peguei auxiliado pela estrela de metal prateado luzindo no peito.
-Ai, que estrela linda! Você é piloto?
(não, bocó... trampo no aeroporto...) - Opa... sim, sim. De 737... (... que de 767, MD-11 seria muita bandeira... só piloto mais antigo pega essas máquinas.... hehehe)
E lá ia mais uma pro saco... hehehe
Até que a Varig teve a feliz idéia de identificar os coordenadores com gravata bordô... e, claro, situação financeira piora... tecido do uniforme vira pano e sapato italiano vira 752 vulcabrás... aí que começam os micos... azul marinho com camisa branca e gravata bordô? E ainda, bordô furta-cor??? Até eu me zoava!!!
Parava no metrô, lá vinha a aninha me pedir informação dos trens. Se tava voltando do trampo e passava num shopping, ouvia "Moço, eu to vendo que o senhor trabalha aqui, onde fica as casas Bahia?". Mas o pior dia foi quando tava voltando de uma noite exaustiva, com alguns colegas, e agente decidiu passar no Habbibs do centro pra comer, tipo, uma da manhã... já reparou a cor da gravata dos gerentes? Pois é... não é que fui no banheiro e na volta um cara de uma mesa levanta e vem reclamar PRA MIM que tava demorando pra trazer o pedido? Não tive dúvida: chamei o garçom mais próximo e, vendo o nome dele no crachá, soltei: "Carlos, vê por favor porque tá demorando o serviço do nosso cliente preferencial aqui?". O pobre carlos, diante de tanta autoridade auto-induzida, saiu correndo pra apressar o pedido, enquanto eu voltava pra minha mesa, sob a sacanagem dos meus colegas...
Aí, mudei pra nhãnhãnã... pensei: Cia. americana, deve ter uma roupitcha da hora... ledo engano...
Rapaizzz, americano é torto. Disforme. Gordo. Bracinho curto. Sem bunda. Deve ser! Porque meu uniforme vem dos USA, e cada vez vem de um jeito diferente... manga curta e largo na barriga... ou manga sobrando e enforcando no pescoço... fora a calça tipo saco de batata... um luuuuxo....
As vezes, eu vejo um passageiro desembarcar com a camisa igual à minha (branca com listinhas azuis...), me dá vontade de perguntar:
- Sr, eu sou obrigado e ganho pra usar... você é de livre vontade?? tsc tsc..
Branca com listinhas azuis... igualzinho às antigas do MacDonalds...
Depois de tantos anos usando essa tralha, dá pra entender minha reação quando a tiazinha me parou no meio do Fast Food e, sacudindo a tortinha na minha cara, reclamou que a porra tava fria...
-Torta fria???? Enfia essa torta de maçã no cu pra ver se esquenta!!!
(acho que até hoje o gerente daquele Mac tenta descobrir qual foi o funcionário que faltou com o respeito com a velhinha no meio do saguão... huahuahauhauhuhaa)
ciau!